11 de outubro de 2014

Apenas um chá.

Todo mundo tem o dia que acorda do lado errado da cama. Aquele que logo no começo, o despertador não toca, o cachorro fez coco na pantufa, o chuveiro queima e o leite está estragado. Vamos acompanhar o dia de Carlos, um reles garçom de uma casa de chá que se encontra no centro da cidade.
Seu dia começa da pior maneira que se deveria. Como se não bastasse a maldita neblina que pode ser cortada com uma faca e o impede de olhar dois centimetros a frente do caminho, alguém muito inteligente decide que bem na hora que ele está passando é o melhor momento para se jogar o lixo fora. Sujo, desorientado e com raiva, pegar um taxi seria a melhor maneira de ele chegar a seu trabalho sem problemas maiores. Isso é, se ele encontrasse um taxi livre.
Por fim, depois de muito tempo, ele consegue achar o lugar onde ele ganha o pouco salário que o mantém porcamente durante o mês. Se fossem apenas 10 libras a mais quem sabe ele se desse ao luxo de comer alguma coisa fresca.
Apesar de ser uma casa de chá retirada, ela é frequentada por muitos professores que são atraídos lá pela otima calefação, cadeiras macias e o melhor chá que seus poucos trocados podem pagar, mas ainda mantendo a classe.
Mesmo tendo que trabalhar apenas a tarde, o chefe de Carlos tinha algumas particularidades com os horários. Todo mundo devia apenas bater sua entrada quando o relógio estivesse em multiplos de 5. já atrasado, e sem tempo para isso, Carlos simplesmente bate seu cartão e começa a trabalhar, até que seu chefe o chama em sua sala, que não deixava de ser apenas uma cadeira na bancada da pequena cozinha onde era preparado tudo o que era servido para os clientes a frente.
-Boa tarde, Carlos, como vai?
Sempre que o assunto começava assim, Carlosjá imaginava que não terminaria bem.
-eu vou bem, mas imagino que esteja melhor.- Carlos diz, tentando apelar para o emocional de seu chefe.
-sim, eu estaria melhor, se não fosse isto que vi, logo após você ter chego- diz ele, jogando o cartão ponto de Carlos, uma das batidas, exatamente aquela que ele havia feito antes, grifada com um marca texto de cor “ei, olhem quem está aqui?”
Ali, destacado de uma maneira que não tinha como se ignorar, o horário indicava 17:03
-sabe como sou com as horas, como explica isso?
Carlos não tinha as palavras para justificar. Já tinha ouvido de um funcionario que tinha dito que se fosse como ele queria, seria tarde demais. Ele nunca mais foi visto ali.
Dispensado após ouvir um absurdo deste, Carlos desiste de Tudo . Seu emprego não era mais importante, sua casa e vida também não significavam nada.
Dali em diante, o mundo que se ferrase que ele não se importava com mais nada.
Mas é claro, depois da hora do chá.
O movimento começava pontualmente as 16:55, tempo suficiente para que quem quer que tivesse chegando se acomodasse em suas cadeiras preferidas e fizesse seus pedidos, para que,sàs 17:00 tudo pudesse estar pronto para que eles pudessem comecar a beber o chá e relaxarem de um dia longo de trabalho. Carlos, ao ver a quantidade de gente que havia se acumulado ali, fica desesperado, e então, resolve que nada disso mais importa.
Doutor pasteur o chama a mesa e então, logo começa a fazer seu pedido
-Boa tarde, senhor garçom- mesmo depois de 4 meses ali e tendo um crachá no peito que parece um cartaz de teatro, doutor pasteur ainda não o chama pelo nome. Deve ser o medo de olhar nos olhos de Carlos- vou querer o chá do dia, acompanhado destes pequenos paezinhos que vocês tem, com um tiquinho de manteiga e açúcar.
Ainda com o lapis em punho, Carlos aguarda para anotar o restante do pedido, até perceber que doutor pasteur não está mais olhando para o vasinho que ele sempre fala ao fazer o pedido e encara a neblina que se acotovela na janela mais próxima.
Seguindo para a cozinha, Carlos começa a separar o pedido, e desiste. Se esconde em um dos cantos da minuscula cozinha, enquanto tenta desviar dos outros garçons que estão se matando para cumprir seus pedidos a tempo.
Encostado em um balcão e longe dos olhos de seu chefe, Carlos pela primeira vez deixa tudo de lado e só olha os outros trabalhar. Quando a cozinha começa a esvaziar, seu chefe o encara e rapidamente, ele retorna a sua rotina de separar o pedido e então, retorna ao salão.
Doutor pasteur não se moveu um centimetro que seja depois que Carlos se afastou, e, se não fosse por um leve levantar de sobrancelhas, ninguém iria perceber que ele estava incomodado com a demora de seu pedido ser feito.
Lentamente, Carlos começa a deixar as louças na mesa. Enquanto chama a atenção de doutor pasteur a sua presença, ele deixa tudo de qualquer jeito. A asa da xícara do lado de dentro da mesa, o guardanapo de linho branco jogado no centro da mesa, o prato de paezinhos do lado mais afastado, obrigando que doutor pasteur tenha que se levantar para poder degustar um dos pequenos quitutes tão adorados por ele.
Na hora de servir o chá, Carlos enche a xicara até a borda, com uma água morna e fora da temperatura agradávelque exige um bom chá. Os sinais de irritação no rosto de doutor pasteur são agora visiveis: mandibula apertada, sobrancelhas arqueadas e um leve batucar na mesa indicando a insatisfação que ele estava tendo com o serviço feito.
Batucar este que se torna um leve tapa na mesa ao observar que carlos derruba algumas gotas de chá no pires esmaltado.
-algo mais, senhor?- carlos pergunta, sorindo levemente, encarando doutor pasteur bem nos olhos, a primeira vez que ele faz isso em muito tempo. Se preparando para alguma resposta rigida- caso queira mais algo, apenas me chame,
-temo não querer mais nada hoje, garoto. Pode sair.
Carlos se afasta, deixando doutor pasteur aproveitaar seu chá morno e seus paezinhos distantes.
Enquanto o observa comer, ele não pode deixar de pensar como e triste que alguém assim não tenha coragem de olhar nos olhos dos outros. Que a educação que cada um tem em sua infância acaba as vezes trancado otimas chances de travar conhecimentos e...
tudo foi muito rápido.
Em um segundo, ele estava tentando arrancar um pedaço de um pãozinho com uma dentada, e no outro, após um gole de chá, tudo muda.
Doutor pasteur leva as mãos a garganta e, se não fosse o pequeno jato de chá que sai pelo seu nariz, o ato nada mais pareceria do que uma coceira ou uma ajeitada na gola. Tentando não chamar a atenção, doutor pasteur tenta sofregadamente puxar ar de alguma maneira. As outras pessoa a volta do doutor nem imaginam o que está acontecendo e continuam a tomar seu chá, calmamente.
Carlos fica paralisado. Ninguém esboça uma reação para o ajudar, e o tom de roxo da face de doutor pasteur está começando a combinar com as cores das cortinas, uma cor nada agradavel de ser emcontrada em um ser humano.
Um vivo, ao menos.
Ele poderia deixar o doutor cair ali mesmo, e só no final do dia iriam perceber que ele estava morto, apenas porque sua xicara continuaria cheia. Não havia obrigação nenhuma dele fazer alguma coisa, ainda mais em um dia como este que ele estava tendo, mas nada é assim tão simples.
Passa pela cabeça de carlos a primeira vez que o doutor chegou ali e ele o serviu, tão rapidamente, satisfeito com seu serviço e em poder ajudar os outros a relaxarem pelo menos por alguns momentos de suas vidinhas movimentadas.
Lembrando disso, ele corre até o doutor e começa a pressionar suas costelas, imaginando que se aplicasse uma pressão suficcientemente forte ali, seja lá o que for que estivesse obstruindo o caminho do ar seria movido
ele o aperta uma, duas, três vezes e nada
uma quarta apertada com tudo esboça uma reação e ele pode ver que os pulmoes rapidamente se inflam de ar. Um apertada a mais, por incrivel que pareça, acaba gerando uma reação adversa.
O pequeno pedaço de pão que estava alojado na garganta de doutor pasteur se liberta e então, é impulsionado pelo salão, cobrindo uma grande distancia, até pousar alguns metros adiante, no chão.
Depois que carlos começou a apertar o doutor, o salão inteiro ficou em silencio, que continua até a hora que o pão realiza seu pequeno voo, acompanhado pelos olhares de todos que ali estavam.
Silencio este que apenas é quebrado por professor lavoisier, outro dos clientes fixos do lugar, que sem esboçar nenhuma reação, diz:
-belo lançamento, senhor pasteur, alguém gostaria de ser o próximo?
Doutor pasteur se levanta, alinha novamente sua gravata, olha para sua mesa e se senta novamente, não sem antes responder a professor lavoisier:
-temo que poderia ter sido melhor.
Olhando para carlos, agora em seus olhos e com um pequeno lampejo de agradecimento, doutor pasteur lhe pergunta:
-agora, será que eu poderia ter meu chá trocado? Este parece ter sido feito com algumas folhas velhas.
Não importa quanto tempo passe, nunca carlos irá entender os ingleses. Mas de uma coisa ele sabe. Raiva não é a melhor maneira de lidar com eles.
Depois do final deste dia, ele vai para casa e dorme, imaginando o que aconteceria se ele tivesse deixado o doutor ali, morrer. No dia seguinte, nada de errado acontece e o dia parece muito mehor. Nada de raiva o faria estragar este lindo dia. Nem mesmo um pouco de raiva e vontade de descontar nos outros.

5 de outubro de 2014

Aquele com histórias na cabeça

Então que eu estava aqui conversando com uma senhorita e acabei me lembrando do Blog.
Vim aqui, reli tudo o que já postei e cheguei a conclusão que não merecia ter deixado de lado isso aqui tanto tempo.
Então,  minha vida não parou.
Minhas histórias,  também não.
Continuo as contando nessas mídias novas.
O orkut acabou, veio o Facebook.
O ICQ acabou, e veio o MSN que também acabou e foi substituído por mil outros bagulhos, como o whatsapp e, vejam só o ICQ de novo.
Seguindo deste princípio,  voltarei. Resio já não existe mais. Habitante de um caderno a muito perdido,  ele agora
Deve estar em algum canto da antiga casa onde morei mais jovem, e que um dia visitarei para ver o que resta meu...
Meu foco mudou, então se eu ainda tenho leitores,  por favor, entendam que assim como eu cresci e mudei, sei que vocês também mudaram. E aceito e entendo isso.
Então,  até em breve.
PS: sou só eu que ainda uso Blogger,  e não migrei pro WordPress?