4 de outubro de 2015

Escuridão

É muito bom quando você mexe em seu telefone antes de dormir. Gosto de te acompanhar em cada um desses momentos que você tem antes de se cobrir. Quando você  chega do trabalho, não posso te ver como gostaria, mas sei que é apenas questão de tempo.
Consigo ouvir você indo pra cozinha, mexendo em panelas e armários, descobrindo se ainda tem algo para comer ou se terá que ir ao mercado. As portas dos armários abrem e batem ao fechar, mas sei que  isso é normal, já sei que é parte de você fazer isso e que não é de propósito, afinal, depois deum dia cansativo, você quer mais é se deitar em sua cama e relaxar.
 Conto escrito pra um concurso a um tempo atrás. não ganhei, mas a história ainda tem seu valor.


Quando vejo você deixar as suas coisas na mesa e então, pegar sua toalha, tirar a roupa e se dirigir para o banheiro, meu peito quase que não aguenta de ansiedade do que terei daqui a alguns minutos.
E quando finalmente você sai do chuveiro, com seu cabelo molhado, tendo apenas aquela minúscula toalha a cobrir seu corpo, a única coisa que desejo é sentir seu calor, pois apenas isso é que me faz sentir a vida novamente. Olhando pro espelho, você chega bem perto de onde estou, e posso até sentir o cheiro do shampoo que usa, um cheiro que penetra em minhas narinas e faz com que cada parte do meu corpo deseje o seu.eu poderia esticar a minha mão e te tocar, mas sei que isso não seria bom, pois traria o fim de tudo isso que tenho com você  E então, você se deita. Quando apaga a luz e corre para o conforto de sua coberta, usando apenas a luz que sai de seu telefone de guia para onde deve ir, eu finalmente posso sair de onde estou.

 Ali, naqueles minutos que você tem, antes de o sono te dominar, eu posso me aproximar de ti. Afinal, aquele brilho é tão forte e ilumina de um jeito tão lindo o seu rosto que eu  posso ficar a centímetros de ti e você não me nota.  E a melhor parte disso tudo é a de que, mesmo que sinta que tenha algo em cima de ti, pode se confundir com o peso de sua coberta e o sono que chega lentamente a ti, fazendo você desligar o telefone e o colocar no criado mudo que fica a seu lado. E então, quando faz isso, posso te abraçar. E é aí que finalmente posso ficar perto de ti, como realmente quero. Mas é claro, você nunca saberá disso...

20 de agosto de 2015

lembranças

as vezes me sento  aqui na sala e começo a viajar pelo conteúdo de minha cabeça. Começo a lembrar de histórias, coisas que aconteceram comigo e que eu por por vezes tinha colocado naquele canto da memória que é habitado por lembranças velhas, sonhos antigos e desejos esquecidos.
A ultima coisa que me lembrei  esta semana foram alguns shows que fui. Não lembro de exatamente quantos foram, mas de todos, tenho lembranças bem vívidas de  o  que aconteceu. lembro do palco, do povo arrumando os instrumentos para que a banda toque, aquela expectativa que antecede a musica começar, aquela tensão que começa quando as luzes apagam e, por alguns  segundos, é como se todos prendessem a respiração ao mesmo tempo, soltando em um grito ensandecido quando toca o primeiro acorde e então, começa o show. o que tive mais essa impressão foi no Bad Religion.
Internacional, casa cheia, ingresso a um preço que não cobrava um rim e um tímpano, lembro da  espera, da fila e de como fiquei feliz por estar ali naquele momento.
Minhas  lembranças  existem em minha cabeça em 5D. Imagem, som, profundidade, tempo, cheiros. se me esforçar consigo me sentir como se estivesse lá de novo.  hoje em dia, lembro do ultimo show que estive presente. e acho que era a idade, mas não consegui curtir como quando era mais novo. Poderia ser porque eu tenho mais carga geriátrica se comparado a minha época de mais novo, mas não é bem isso. estar lá hoje é dia é depressivo, pois não se tem mais o sentimento de unidade que se tinha quando ia em shows mais  antigos. Hoje é dificil conseguir  ter uma visão plena do palco, pois e você tem que desviar dos centenas de pares de braços estendidos, com seus celulares, filmando um show que nunca irão ver, pois o seu foco está ali naquela pequena tela, não no que acontece a sua volta. eles nunca irão poder dizer como é estar em um show assim, pois se limitarão a mostrar um video do tamanho de um selo, em que o som parece sair de uma bexiga amarrada em uma garrafa. as provas que terão de estarem lá é seus check-ins na entrada do show, suas tags do instagram, seus rápidos e vazios snapchats.
sim, sou velho no alto de meus trinta anos, mas tenho orgulho de saber que, mesmo velho, tenho como me orgulhar de minha memória de onde fui, por onde passei, o que fiz, pois não será uma foto, e sim, uma descrição de acordo com o numero de detalhes que estiver disposto a aguentar.